Caixinha Secreta
Dora era uma linda
garotinha de cinco anos, cachinhos e pele morena que vivia no bairro das
Cajazeiras, uma menina adorável que fazia amizades com toda a facilidade por
onde passava.
Certo dia, quando voltava da escola, Dora percebeu uma
movimentação diferente na pacata Rua do Caju, onde morava com sua família. Um
caminhão bem grande estacionado na casa em frente a sua, com muita dificuldade
a menina conseguiu ler: Caminhão de mudanças! Era uma grande novidade, pois a
casa passara vários anos sem moradores. A pequena Dora ficou eufórica só em
imaginar que poderia haver alguma criança.
No dia seguinte veio a grande surpresa: Daniel, o novo aluno
da Escola do Bairro, era o seu novo vizinho e colega de classe. Dora não se
conteve e logo se apresentou.
- Oi, meu nome é Dora Alice Costa Brandão, moro na casa em
frente a sua! – O menino ficou estupefato com o entusiasmo e euforia da menina,
não sabia bem o que dizer.
- Oi... Dora Alice...
- Me chame de Dora, vou lhe chamar de Dan, posso?
- Hanrram...
A garota não parou de tagarelar tudo o que Daniel
precisava saber sobre a escola, o bairro, os amiguinhos de classe. Assim se deu
o início de uma grande e bela amizade. Dora sentiu por Daniel uma empatia que
nunca houvera sentido antes, definitivamente ele era um menino especial.
Daniel tinha cinco anos e meio, deixara bem claro que era o
mais velho, pois era um tanto autoritário, um traço de sua personalidade. Tinha
expressivos olhos verdes, um corpinho alto e magricelo. O sorriso era a parte
mais encantadora e a imaginação só não perdia para a da nova amiga.
Os dias se passaram e logo os pequenos se tornaram
inseparáveis como nariz e meleca, assim dizia Dora entre gargalhadas altas e
açucaradas, ela amava o amigo e agradecia ao Papai do Céu todas as noites pelo
melhor amigo do mundo.
Não demorou muito para Dora mostrar todos os esconderijos
secretos de seu quintal, onde comia doces escondida da mãe e para Daniel
mostrar-lhe sua brincadeira favorita: observar as estrelas pelo binóculo
magico da janela de seu quarto.
Tudo estava fluindo muito bem até que um belo dia Daniel disse
que tinha um segredo muito importante para contar, mas que a amiga não podia
contar para ninguém e nem fazer também.
- Conte-me Dan, conte, por favor! Ah Dan conte, conte,
conte! – O menino hesitou, foi até a porta de seu quarto, pôs a cabecinha para
fora se certificando de que a mãe não estava por perto, e fechou-a.
-Você tem que prometer que não fará também e nem dirá a
ninguém!
-Eu prometo! Prometo de dedinho! – A menina encostou o dedo
mindinho no do garoto; esta era a forma de promessa mais segura entre as
crianças daquela idade.
- Então feche os olhos. - Dora os fechou ansiosamente.
Daniel afastou-se para pegar uma pequena caixinha em baixo da
cama.
-Pode abrir.
-O que tem nessa caixa Dan?
- Eh... Eu...
-Desembucha logo! – Dora deu um sorriso encorajador.
-Eu peguei... Um pouco de massinha... Da nossa sala...
No mesmo instante Dora se sentiu paralisada, zunia em sua
cabecinha a voz da professora.
-É deselegante levar a massinha da escola Dan! Isso
significa que é proibido, não pode!
Dora ficara muito brava e decepcionada com a atitude do
amigo. Foi para casa naquela tarde de semblante caído, triste. A partir daquele
dia passara a observar melhor o amigo na sala de aula e percebera todas as vezes
que Daniel pegava um pedaço da massinha comunitária e colocava no bolso do
uniforme, ninguém mais notara. Dora jamais faria tal coisa, entretanto gostava
muito do amigo para entregá-lo. Resolvera guardar o segredo numa gavetinha no
fundo de sua mente.
Continuaram a amizade sem mais tocar no assunto, entre
brincadeiras e diversões.
Um dia, porém, enquanto brincavam de marinheiros no quarto de
Daniel, o menino procurou a caixinha que dizia haver deixado encima da mesa onde
estudava e lá não estava. De repente Dora vira o menino se transformar: gritava
com ela, a acusava de ter escondido sua massinha ou jogado fora.
- Você não pode roubar as minhas coisas, sua intrometida! Eu
sabia que não podia ter contado para você, eu odeio você! Onde está a minha
caixinha, me devolva!
Dora segurou as lágrimas na garganta e gritou.
-Eu não sou ladrona Daniel, você que é, pegou massinha
proibida da escola, não peguei nada seu! Vou falar tudo para sua mãe. –A menina
saiu correndo e se sentou no ultimo degrau da escada, em frente a porta da
saída. Ali chorou sua frustração: o amigo tão amado não acreditava e nem
confiava nela. Como poderia ser?! Logo ela que não tinha dito nada para a
professora, nem para sua mãe! Dora ergueu a cabeça e engoliu o choro e mesmo com
as palavras “eu odeio você” ecoando em sua mente, disse com firmeza:
- Eu não mexo nas coisas alheias Daniel e por isso vou
ajudar você a procurar, quando eu achar vou embora, de verdade.- Os dois
procuram por longos minutos, até mesmo no lixo. Foi Dora quem encontrou a
caixinha caída em baixo da cama de Daniel. Lá estava o seu triunfo, havia
provado que dissera a verdade.
Dora saiu do quarto sem dizer nenhuma palavra, mas tinha uma
grande certeza em seu coração, o amor que tinha por Dan não havia acabado, apesar da cena horrível que presenciara , entretanto sabia que enquanto houvesse aquele pote de massinhas, o amor
dele nunca seria completamente dela.
Obs: Trata-se de um desabafo de alguém que se apaixonou por um dependente químico e que após perceber que nenhuma forma de amor seria suficiente para competir com um vício,desiste de lutar apesar do sentimento.
A história é basicamente como se deu o romance, perfeito até o momento em que "Dan" conta para "Dora" que é usuário de maconha /"MASSINHA", partindo deste ponto a namorada decide "conviver" com este mal por amor, mesmo sendo terminantemente contra o uso de drogas, seja lá quais fossem, assim o namoro segue "normalmente" até o dia em que Dan se transtorna quando percebe ter perdido seu "pacote precioso" e acusa a namorada de tê-lo jogado fora por saber que esta era contra o uso por parte do namorado. Neste instante Dora sente uma tristeza e angústia profunda que a faz desistir de vez de um romance com este tipo de perigo, mesmo sabendo do amor de Dan, não pode competir com as drogas.
Drogas maltratam e matam, não use.





